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Cartas de Virginia

Aconteceu, hoje, oficina de criação literária e feminismo "Como meninas, garotas e mulheres", na Casa Mafalda. 

Tema da oficina: "Elas estão descontroladas" a discussão foi em torno da imposição em relacionar histeria e o feminino, como forma de marginalizar e manter as mulheres sob controle. 

“Na manhã de sexta-feira, 28 de março, um dia claro, luminoso e frio, Virginia foi como de costume ao seu estúdio no jardim. Lá, escreveu duas cartas e atravessou os prados até o rio. Deixando a bengala na margem, ela esforçou-se para pôr uma grande pedra no bolso do casaco. Depois encaminhou-se para o lago.”

Atividade: Escreva uma das cartas de Virginia.




TEXTO 1

Londres, 28 de março.
Hoje o dia amanheceu lindo, quase não senti o frio que me fez lutar para levantar da cama. A noite foi marcada por pesadelos e medos que me atormentam quase a vida inteira. Não consigo mais lutar comigo mesma e sinceramente, imaginar outra maneira. A morte é uma certeza incerta, mas sempre (por mais que discorde) será plena. A vida é curta, já a morte é eterna. Sinto hoje que estou pronta para abraçar esta bela e plena certeza que nos espera. Não tenho mais dúvidas que todo o meu legado será compensado, que minha história, minhas horas, e agora faço este único apelo: entregue esta carta ao meu amor verdadeiro e que ela seja lida pelo mundo inteiro. Estou pronta para o meu último beijo, o da morte.
Karina Gomes da Silva






TEXTO 2

Londres, sexta-feira, 28 de março de 1941.
Hoje eu não vejo um motivo para estar aqui. Hoje quero que minha alma e meu corpo encontre um lugar para descansar em paz. Sinto que minha missão chegou ao fim. Vivi intensamente e prazerosamente e você me deu a oportunidade de passar por isso ao seu lado.
Querido amigo lhe agradeço...
Daniela Seles





TEXTO 3

Não sei ao certo por onde começar. Tudo anda muito vazio ultimamente. Se você está lendo isso provavelmente não estou apenas morta fisicamente, mas estou há muito tempo morta internamente. Eu deixei de me sentir viva há algum tempo, nessa fase da minha vida acho que só escrevi o suficiente, não vejo mais o toque continuar. No lugar da criatividade e do prazer por escrever, hoje habita um grande poço vazio. Minha missão já foi feita. Sinto que preciso acabar logo com isso. Trágico até pode ser, mas pelas águas vou me eternizar, estou feliz por isso.
Lucas Miranda




TEXTO 4

Londres, sexta-feira, 28 de março de 1940.
Meu Julian,
Hoje me encontrei com o dilema da vida ou seria da morte? Descobri que desse mundo já não quero mais descobertas. Não que eu me sinta completa de saberes o suficiente, nenhuma criatura será capaz de tal feito. Percebi hoje, aos cinquenta e nove anos, que o mundo sem mim tem toda a sua complexibilidade, assim como sem você, meu caro sobrinho, assim como todo o resto da humanidade.
Em minha partida levo apenas o arrependimento do que eu não fiz. Escolhi não ter filhos, e fico feliz por não me arrepender disso, foi minha escolha. Gostei de me relacionar com mulheres, sejam minhas próprias personagens ou não.
Larissa




TEXTO 5

Londres, 28 de março de 1940.
Querida Regina,
Hoje é uma sexta-feira mais fria do que o habitual, não somente a temperatura lá fora, mas algo no meu peito está me congelando há um tempo.
Há algumas semanas tenho pensado sobre a maior parte das coisas que fiz ao longo dos meus 59 anos. Tenho lembranças muito vagas de nosso pai pouco antes de nos abandonar e, apesar de tudo, hoje estamos mais maduras, eu o perdoo por tudo e até compreendo, as vezes, temos que largar aquilo que amamos, pois pode nos machucar.
Sei que já não sou tão nova, nem tão ágil como nos anos da faculdade, no entanto, escrever continua sendo o meu método de amar e, de certa forma, de ser amada. E é por isso que estou abrindo mão disso e não só me libertando, como tornando livre todas as palavras que por algum motivo deixei de escrever.
Espero que você entenda minha morte, que não deve ser motivo de tristeza e sim de conforto para minha alma. Quem sabe não nos encontramos em outro plano.
Com amor,
Virginia.
Lívia





TEXTO 6

Londres, terça-feira, 28 de março de 1941.
Quero Paul,
Venho por meio desta carta informar que minha dor e angústia estão insuportáveis dentro do meu peito, meus dias são cinzas e não consigo mais nem fazer meu próprio café. Aqui na nossa fazenda nossos animais estão bem cuidados, a grama sempre verde e até o Garfield me faz companhia junto a lareira. Ontem caminhei por horas, tentando achar um bom motivo para continuar, o sol estava entrando pela minha pele e o vento bate suave sobre meus cabelos e meu rosto. Pensei em escrever debaixo da macieira, mas apenas sentei e deixei que o momento entrasse pelo meu ser, senti minha vida como nunca sentira antes, a minha sensibilidade está morta, Paul, já não há motivos para continuar. Após ler essa carta, peço que vá até a macieira, a minha adorável macieira, lá te deixei algo muito valioso, que guardei por anos, com tanto carinho. Hoje estou tirando o que Deus me deu de mais valioso, minha vida. Espero que você me perdoe e Deus também.
Com amor,
Virginia.
Juliana





TEXTO 7

28 de março, Londres 1940.
Cansei de todas decepções e de todas atitudes toscas destas pessoas que vivem em torno de mim. Por meio deste comunicado ou carta, como queiram, venho comunicar meu último adeus. Um abraço a todos, se cuidem.
Virginia.
Renan






TEXTO 8

A veces no deberíamos preguntarnos tanto porqué suceden las cosas, solo suceden y ya.
Esto me sucedió a mí un viernes por la mañana.
No me pregunten porqué, solo desperté con ansiosas ganar de suicidarme.
No me pregunten porqué, solo cogí una casaca y mis zapatillas recién lavadas.
No me pregunten porqué, solo sentí que nací en el siglo equivocado y que podría equilibrar el ritmo del planeta desapareciendo.
No me pregunten porqué ahora y no antes, pude haberlo hecho a los 27 años con una escopeta en la cabeza pero no.
No me pregunten porqué solo decidí hacerlo ahora y ya.
Veo el cielo despejado y hace frío, un óptimo día para decidir volverse polvo.
Siempre imaginé cómo se sentirían las personas cuando saben que es su hora, como el libro de su vida llega al último capítulo, cómo se sentiría ponerle fin a esta historia.
Y aquí estoy yo, en el año equivocado y en la posición imaginada.
Tarde o temprano llegaría y quién es el destino para decidir cuando yo morir.
Me llamo Virginia y llegué solo hasta aquí.

Ivanna




Desafio 10/11

Todo mês, no dia 10, o Escrita Aberta lança um desafio literário, um exercício ou tema para aguçar a criação literária de todos.
Você também pode lançar um desafio! Bastar enviar o desafio para escritaberta@yahoo.com.br

Desafio de Novembro

Tema: comunicação entre línguas diferentes.
Gênero: livre

Deixe o seu texto no comentário desse post. 
                                                     Divulgue!!!





Desafio 10/10

Todo dia 10 o Escrita Aberta lança um desafio literário, um exercicio ou tema para aguçar a criação literária de todos.
Você também pode lançar um desafio! Bastar enviar o desafio para escritaberta@yahoo.com.br

Desafio de Outubro

O olhar infatil
Gênero: livre

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Leandro Calbente
Moonrise Kingdom de Wes Anderson (crítica cinematográfica)
O novo filme do diretor americano Wes Anderson, Moonrise Kingdom, é uma preciosa reflexão sobre a pureza de um amor infantil, capaz de desarticular toda a rigidez normatizada do mundo adulto. Para isso, a trama se passa numa pequena e isolada ilhada da Nova Inglaterra dos anos 1960. Os protagonistas do filme são duas crianças, Sam e Suzy. Ambos vivem marginalizados no pequeno mundo dos adultos, configurando aquilo que é comumente chamado de criança-probema. Ele é um escoteiro órfão e não se adapta bem ao ambiente familiar do seu lar adotivo, alem de ser discriminado e ignorado pelos demais escoteiros. Ela é a garota introspectiva e isolada, igualmente inapta para se relacionar com a família e taxada como a filha “com dificuldades de comportamento”. A sensação compartilhada por ambos de estranhamento com a norma social parece que funciona como uma poderosa conexão recíproca. Após um breve e fugaz encontro, cada um enxerga no outro a possibilidade de vivenciar uma experiência de descoberta do mundo a dois, como se pudessem compartilhar o fardo do estranhamento, desligando-se de um mundo que não lhes pertence. E essa possibilidade de abandonar o mundo das normas e das inadequações se materializa na fuga. Após um planejamento minucioso, Sam elabora uma espécie de viagem de descoberta, a qual seria realizada ao lado de Suzy. Essa experiência, porém, não é aceita pelos adultos da ilha, provocando uma longa perseguição contra aquelas crianças que simplesmente se recusam a viver dentro das normas. É assim que aquela aparente inadequação se revela muito mais como uma expressão de um olhar infantil ainda aberto para a inocência mágica do mundo, para a pureza de um mundo sem tantas normas. Encontramos, portanto, uma contraposição radical entre as ações das crianças e dos adultos. No fundo, são esses que se mostram incapazes de vivenciar qualquer tipo de relação diante do outro, de compartilhar uma experiência ou de existência a dois. O casamento falido dos pais de Suzy, a vida solitária do policial, ou mesmo a frieza do líder dos escoteiros, tudo revela uma espécie de vazio ou de ausência na maneira como os adultos encaram o mundo. Não existe possibilidade nenhuma de encontro, de descoberta do outro. Já a fuga do casal de crianças é repleta de momentos de verdadeiro encontro, da descoberta alegre e recíproca do outro que está diante de si. Como sinceros enamorados, o casal consegue enxergar toda a potência de uma estar-junto, como na linda cena da música na beira do rio. Existe uma espécie de mágica nesse momento, a mágica que advém da excepcionalidade, daquilo que consegue dobrar a anomia de uma existência cheia de regras e normas. Contra a apática existência dos adultos que os rodeiam, Sam e Suzy parecem dispostos a levar ao limite a possibilidade de estar-juntos, produzindo a mais radical recusa da norma: a deserção do mundo ordenado. Esse projeto, entretanto, acaba sendo abortado e é ai que o filme opera um movimento final, bastante sensível e belo. Ainda que incapazes de realizar a completa negação daquele mundo, as duas crianças se mostram capazes de realizar uma dobra sobre a própria norma. O estar-junto se revela uma potência poética capaz de criar e recriar novas maneiras de existência, como na incrível cena do casamento. Afinal, este é talvez o ritual mais exemplar dessa existência normatizada, mas que é completamente subvertido pelos dois. Por isso, essa relação infantil se mostra o mais intenso caminho para a (re)descoberta da alteridade do próprio mundo.


Tadeu Renato
Estou escrevendo, sem pressa, um livro infantil com contos baseadoa e mhistórias reais. Este abaixo é parte de um destes escritos:

É A LAMA, É A LAMA

Mário ficava espantado com tanto avião que vinha gritando entre os corredores de nuvens. O azul no céu era tão azul que provavelmente era feito de mar, pensava o menino, que nunca havia visto o mar, tão longe a água salgada estava dali. 
A base militar era sua vila, seu mundo era feito de continências, risos, gritos e principalmente aviões. O pai não era piloto, vivia mais embrenhando corredores de tijolos dos escritórios da base. Mas sempre que precisava, subia no avião rumo a São Paulo e só voltava depois de alguns dias. Mário se acostumou com as pausas do paii, até porque a mãe sempre ficava por perto. Fora os outros meninos que também moravam na vila de soldados, todos brincando até os limites da base, mas doidos para alargar as fronteiras mato adentro. 
Mato Grosso era - e a não ser que a maré suba até cobrir uma imensa parte do Brasil ou da América Latina como o menino desejava nos períodos de seca – um estado que nem sequer sentia as tormentas que os ventos do oceano podem causar. Para chegar ao mar era preciso muito tempo de viagem, tão distante que às vezes não parecia existir de verdade, mas apenas nas histórias contadas pelos mais velhos ou em invenções da televisão.
Os meninos levantavam a poeira vermelha do campo quando corriam embolados no futebol e Mário, goleiro de coragem, se jogava, ralava o joelho, xingava um pouco envergonhado e não fugia do sol. Mas bastava um rasante daquelas máquinas voadoras e toda atenção dele pegava carona nas asas das aeronaves. E tome gol no ângulo, por baixo das canelas e palavras feias dos outros jogadores para o distraído menino.

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No fim de ano o pai pousou todo um mês na vila e deu de presente um embornal de pano cheio de pincéis, tintas, lápis e um caderno. Era hora de o menino deixar a pequena escola da base militar, onde aprendera os desenhos das letras, e começar a frequência a escola para crianças maiores.
- Em outra vila, pai?
Não fosse só pela novidade da mudança, Mário ainda ganhava de surpresa a ideia de conhecer outros caminhos além do horizonte verde que cercava sua infância desde sempre. Escreveu seu nome na bolsa e contou os dias que decidiram ter muito mais horas do que as tardes de diversão. 
Onde é que ficava o amanhã? Já estaria pronto em algum lugar, apenas esperando que tudo que fosse hoje virasse ontem? Vez em quando Mário tinha pensamentos brincantes de quem olha periquitos em árvores secas e imagina serem folhas que voam. A mãe ria destas histórias, o pai achava bom tamanha invencionice, poderia ser um inventor, um dia, igual ao Santos Dumont. O menino tinha perguntas, curiosidades que ficavam ecoando nos olhos de descoberta. O que tinha depois da vila? E mais além? Onde ficava São Paulo? Como os aviões navegavam no céu e não atropelavam as ondas dos rádios? Um monte de mistérios que aconteciam sem ninguém saber o porquê. Talvez a nova escola soubesse tudo sobre tudo isso.
O primeiro dia de aula chegou depois de uma madrugada de chuva atrovoada. Acordou com o mesmo sono de outros acordares, mas logo que viu os outros meninos já correndo pela estrada de terra, sentiu o aperto do atraso, engoliu o leite, beijou a mãe, bateu continência ao pai (achava engraçado imitar a pompa dos soldados), se enfiou na capa amarela e andarilhou com vontade.
Quando a vila militar já sumia de sua vista, percebeu que estava mais longe do que jamais estivera de casa. Os meninos que saíram na frente também já sumiam nas curvas e Mário se viu sozinho no caminho de mato e terra. 
Apressou o passo, tomando cuidado para não escorregar nas pedras. A hora avançava e nada poderia atrapalhar sua velocidade. Nada de se distrair: Mário mantinha o ritmo ao som das galochas e nem aquela vaca marrom que olhava de canto, pastando folhas murchas, faria o menino diminuir o passeio. A estrada era irregular, mas nada tão assimétrico que confundisse o modo dos pés entenderem o pisar. 
O sol já começava a esquentar e seu reflexo em uma poça de lama ao lado de um bambual entrou no trajeto do menino. Mário sabia que era preciso se afastar, todavia as pernas não obedeceram, talvez pela ligeireza, ou porque um avião riscava por sobre sua cabeça. O menino, com muito espaço para desviar, não desviou: afundou toda a perna na lama. A vaca mugiu e o Mário correu mais ainda. Chegou à escola fantasiado de santo de barro. Para graça dos outros meninos.

Renata Cirilo
Passáros

A esperança chegou a Lia de forma poética: nas asas dos pássaros, nas linhas e contornos que deslizavam de suas mãos infantis; os olhos pequenos revelavam a descendência, os tsurus a compartilhavam. 

Passava os dias, sentada a beira da mesinha de centro da sala, os joelhos, brancos, vermelhos, o rosto sério, trabalho de gente grande!

Eles, os grandes, passavam desolados, doença rápida. 
E ela se concentrava mais: ah, revoada de 1000 pássaros que atendem a 1 desejo. 

Lia não sentiu o beijo de despedida do pai, faltavam ao menos 350; hoje, mulher, olha seus seiscentos e cinquentas tsurus, declarações orientais de amor.


Carla Lopes
A gente é pra aquilo que nasce ser... sempre me dizia meu pai. Meu pai...
Quando eu era menina, mal via meu pai. Ele ia e demorava pra voltar... mas sempre voltava no momento em que as coisas mais precisavam que ele estivesse lá. É como se sentisse a hora que devia chegar.
Mas naquele tempo, era eu e minha mãe. Eu mal me lembro dela, a bem dizer. Deve ser porque ela parecia que só existia quando meu pai chegava.
A maior parte do tempo ela ficava em silêncio dentro de casa e eu gostava era de ficar no quintal vendo as formigas carregando as coisas pra dentro dos buracos da parede, e pensava: Como pode uma coisa tão pequena carregar um peso tão grande nas costas?
Também gostava de ver as outras crianças brincando na rua...os meninos que faziam de conta que eram super heróis e se batiam pra ver quem era o mais forte.
Eu pensava: um dia também vou! Mas eles não deixavam, porque super herói é homem, e eu era menina, e menina só sabia chorar e chamar a mãe...eles diziam...
Mas se a formiga conseguia ser forte, mesmo sendo pequena, porque eu também não podia ser forte sendo menina?
Ouvi um grito, era minha mãe de dentro de casa, tentando juntar o que podia. De repente, todo mundo tava correndo de um lado pro outro gritando, chorando.
Era um barulho tão alto que vinha, que eu nem sabia que existia coisa assim.
Uma pancada que quase derrubou a porta e do lado de fora alguém dizia: Sai por bem ou sai por mal!
Minha mãe me olhou apavorada e disse: Vai lá pra fora, fica abaixada bem quietinha no seu esconderijo! Não deixa ninguém te ver! Só sai quando ver o seu pai! Vai!
Eu corri pra detrás da casa. No fundo do quintal tinha uma árvore. Lá detrás eu podia ver quem vinha, mas ninguém podia me ver, e foi de lá que eu vi...a casa começando a pegar fogo...na porta, caída, a mão da minha mãe que tentava se arrastar pra fora...Eu ia correr pra lá pra ajudar ela a sair... mas o telhado caiu... E eu não vi mais nada. Quando meu pai e meu padrinho chegaram pra me buscar eu fui até o quintal. Meu pai veio atrás de mim e perguntou:
- Filha? Tá matando as formigas?
- Tô. Porque elas são fracas. Ninguem vê elas no chão...pisam nelas e elas não tem nenhuma chance... E ai, ele me disse um coisa que eu nunca mais ia esquecer:
- É verdade. Uma formiga sozinha no chão não tem nenhuma chance...mas você se lembra daquela vez que as baratas estavam se espalhando por toda a cozinha da sua mãe, lembra que você chamou as formigas e elas se juntaram aos montes e durante a noite atacaram as baratas de surpresa... E as baratas voltaram filha? Não. Elas nunca mais voltaram. Por isso, se você matar estas formigas por que acha que são fracas, não vai deixar que elas cheguem onde tem que chegar, pra se juntar com as outras que esperam por elas, pra fazerem o que devem fazer...juntas...
Pra onde a gente vai? Hein, Padrinho? Pra onde a gente vai pai?
- Pra onde esperam por nós filha.
Nem sei por quantos lugares a gente passou: eu, meu pai e meu padrinho... Mas foram muitos...muitas pessoas...pouco pra comer, pouco pra beber, pra vestir...pra viver. Cada lugar que a gente achava que podia ficar, de repente tinha que ir.
Fora! Fora daqui! Aqui não! Vai pra outro lugar! Cambada de vagabundo! Só tem gente que não presta ai no meio. Desgraçados que acabam com o lugar, esse monte de lixo! Lixo?
Por quê?
Tantas vezes eu me perguntei porque odio, tanto nojo, tanto desprezo contra a gente até perceber que só tinha uma pessoa que podia me responder tudo isso. 
Era eu mesma.
Não!A gente não é lixo! E vamos ser o tipo de gente que tiver que ser pra não servir de lixo pra ninguém!
Sem historinhas de princesas pra dormir, meu pai dizia: Aprende a se defender! Se te atacarem, revida! Você não é qualquer uma que podem fazer o que quiserem!
E assim eu cresci, num mundo onde o sonho só valia à pena se pudesse se tornar uma realidade... pra todos.

Escrita Aberta e Jornada Fotográfica

Escrita Aberta de Novembro conta com dois encontros.

Dia 20/11 (sábado):

O Dia Nacional da Consciência Negra

Coordenação: André Douek



Quando: Sábado, 20 de novembro de 2010, das 09h00 às 17h00.

Das 09h00 às 12h00: Saída Fotográfica

Das 12h00 às 14h00: Almoço

Das 14h00 às 17h00: Seleção e Edição das Imagens

Onde: Ponto de encontro na Avenida São João, 473.

Quanto: Atividade Gratuita; as despesas com laboratório (serão pagas pelo Escrita somente para quem se escreveu antecipadamente, com o grupo) e a alimentação será por conta de cada participante.



Dia 23/11 (terça-feira):

Encontro para debate e criação literária, a partir das fotográfias tiradas no dia 20.

Onde: Biblioteca Alceu Amoroso

Quando: 23/11 às 15h.

Nos vemos!!!

60 palavras e nada mais

Apenas 60 palavras e quantos textos?
A partir das seguites palavras, veja os textos produzidos.

01-bunda....................21-lotado..................41-comoção
02-janela...................22-aberto..................42-nuvem
03-umbigo...................23-guerra..................43-ser
04-amendoim.................24-paz.....................44-nu
05-ostracismo...............25-lar.....................45-olhar
06-abrir....................26-bonito..................46-véu
07-coloração................27-som.....................47-pensar
08-não......................28-mundo...................48-cair
09-afeto....................29-totalidade..............49-vitrine
10-legitimidade.............30-esperar.................50-alheio
11-trator...................31-segredo.................51-sensualidade
12-caminhar.................32-lábios..................52-languido
13-esbofetear...............33-miúdo...................53-língua
14-pular....................34-desapego................54-bronquear
15-água.....................35-ruído...................55-esmiuçar
16-associar.................36-folha...................56-ilha
17-carinho..................37-enrolar.................57-pinga
18-torcer...................38-pedir...................58-gargalhar
19-sobra....................39-torta...................59-cacarejar
20-chuva....................40-vermelho................60-fim

.............................TEXTOS................................



Sensualidade

Torcia a bunda e o umbigo
Alheio, aberto
Esperava naquela vitrine
Uma língua lânguida
SEN-SU-A-LI-DA-DE
Miúdo,
Esbofeteava a sombra
Assobiava um segredo
SEN-SU-A-LI-DA-DE
Gargalhava uma bronca
Nu
Alheio a vitrine
Pensava na bunda e no umbigo
a bunda e o umbigo
Pensava com a bunda e o umbigo
SEN-SU-A-LI-DA-DE
Deise Ramos


Ilha
Ruíu em desapego alheio.
Esmiuçou, enrolou
beijou nu os olhos.
Segredos na língua,
languidos, pinga...pinga.
Comoveu, pediu, sobrou
...som de paz.
Renata Cirilo

Criar um texto a partir de uma foto de paisagem

Exercicio: a partir de uma foto de paisagem, na qual não figura pessoas, só natureza e/ou construções humanas, que se faça o texto.

Quando era ali? As casas chegaram antes, uma bicicleta parada e a outra que vinha vindo com alguém montado em cima. Em cima das portas, redes penduradas. Brincos à venda pendurados nas paredes. A placa pequena caída no chão, gritando: "Temos filmes!" De um outro lado janelas padronizadas e impecáveis na restauração da arquitetura enfatizada. Mas esqueceram de lustrar o poste, o poste descascado carregava uma lampadazinha miúda e apagada. A procissão de fios entre as casas acompanhava as charretes ao fundo até se despedirem na montanha. Esta fica, e o tempo que desapareceu ali depois da foto, brinca de voltar pra dizer mais sobre os tijolos sem acabamento por trás da parte turística da rua, nas moradas de cimento.

Paisagem e Personagem

Exercício: a partir de uma imagem descreva a paisagem, não pode haver personagens.

Refletia o sol amarelo.
Miolo de árvore passava
amarelo em cima do caminhão
levantando poeira secando
motrando o amarelo do solo
A colheita crescia, crespa
e refletia o milho amarelo.

Exercício: a partir da descrição dessa imagem crie um personagem-paisagem.

Poema Azul

Refletia o sol amarelo, sentada no pé da varanda, da casa amarelada pela terra.
Passou caminhão, em cima gente, arvoré, bicho, planta. Poeirou levante,
mas era tudo dela, lá dentro na cabeça amarela, de fios louros;
da plantação de milho, laranja, melão e girassóis.
Bateu vento, saiu pelos olhos áridos,areia, sem o molhado do mar.
Azul só no céu, amarelo em todo lado, do sol ao solo dela,
azul só nos olhos de Estela.